terça-feira, 11 de outubro de 2011

Banda Larga brasileira é “bem estreita”… Será?!?

Banda Larga brasileiraUm estudo global sobre a velocidade das conexões de internet, feito pela empresa de distribuição de conteúdos digitais Pando Networks, revelou que países como os Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Austrália, Alemanha e França ficaram muito aquém de uma média ideal de velocidade em downloads (600 kilobits por segundo) se comparados a outros melhores colocados da Ásia e da Europa Oriental (acima de 1 Mbps). O Brasil é o país dos Brics que ficou na pior posição, ocupando o 164º lugar, com meros 105 Kbps de download, contra a média mundial de 508 Kbps. Rússia, China, Índia e África do Sul tiveram desempenhos melhores: 761 Kbps, 245 Kpbs, 184 Kbps e 160 Kbps, respectivamente.

O estudo da Pando contemplou 224 países e territórios e foi baseado em downloads feitos em 20 milhões de computadores de janeiro a junho deste ano. O mapa completo está disponível em http://www.pandonetworks.com/Pando-Networks-Releases-Global-Internet-Speed-Study.

Banda Larga brasileira

A Coreia do Sul foi a campeã, com média de 2,2 Mbps, seguida da Romênia, com 1,9 Mbps, e da Bulgária com l,6 Mbps. A banda larga brasileira precisa evoluir muito para atingir o patamar ideal em velocidade, universalização de acesso e preços, com investimentos em cabos, fibras ópticas e inteligência agregada nos sistemas de redes, avaliam consultores, especialistas em telecom e os fornecedores de conteúdos multimídia ouvidos pelo DC.

Fabrício Tamusinas, que coordena projetos de medição de qualidade de internet do Nic.br (responsável por implantar as decisões do Comitê Gestor), acredita que os testes feitos pela Pando tenham se utilizado de servidores longe do País (na Ásia), e não os mais próximos da América do Sul, o que deve ter comprometido bastante o resultado. "Por esse estudo, os Estados Unidos não estão bem colocados também, e nem o Netflix (serviço de filmes líder no mercado norte-americano e que chegou ao Brasil) teria condições de oferecer downloads com qualidade, porque eles exigem uma velocidade mínima de 1 Mbps do usuário", contesta. A Pando não respondeu aos e-mails do DC para explicar os critérios utilizados nos testes.

Banda Larga brasileira

Segundo Tamusinas, "se os servidores estão muito distantes, o caminho a ser percorrido é muito longo, e, assim como numa estrada, há trechos de congestionamento para o tráfego dos dados. O ideal é sempre usar servidores próximos ou até dentro do Brasil. Mesmo os instalados nos Estados Unidos garantem conexões mais velozes e de qualidade. Com a chegada de mais provedores de filmes, games, músicas no País, a tendência é hospedar esses serviços em servidores locais e isso vai melhorar muito a qualidade das nossas conexões".

Alguns números recentes surpreendem os mais céticos. Segundo o Ibope Nielsen Online, os usuários ativos de internet (em residências), em março deste ano, somavam 35 milhões e, deles, 48,4% tinham velocidades entre 512 Kbps a 2 Mbps, enquanto 15,2% alcançavam de 2 a 8 Mbps. Só 30% dos internautas apresentavam velocidades médias de 128 a 512 Kbps, especialmente em regiões fora das áreas metropolitanas, mais remotas, onde o alcance das operadoras ainda é limitado. "Desde 2009, as conexões acima de 1 Mbps já ultrapassam a quantidade de quem tem 256 Kbps, e isso nos permite oferecer serviços de downloads e streaming de vídeos com mais tranquilidade", avalia o CEO da EnterPLAY, Gerson Rolim.

"Dos 15 milhões de conexões fixas de banda larga, já temos 50% com velocidades acima de 1 Mbps, e isso vai melhorar com a chegada do PNBL (Plano Nacional de Banda Larga), que prevê universalizar as conexões rápidas a preços baixos", lembra Rolim. A EnterPLAY está estreando no Brasil, em parceria com a Intel, Microsoft e Adobe, com o EnterPLAY Cloud Video, de vídeo on demand, que usa uma tecnologia de compactação de filmes. "Os arquivos multimídia podem ser baixados com metade do tamanho convencional, ou seja, um filme de qualidade DVD fica compactado a 750 MB, contra os 1,5 GB exigidos pela concorrência", explica Rolim. Os servidores estão na nuvem e os conteúdos são colocados na rede interna dos clientes (os provedores e operadoras de telecom e TVs a cabo). É possível também fazer streaming para qualquer dispositivo móvel.

Serviços de streaming de vídeos e download de filmes, músicas, games, como Netflix, EnterPLAY, HP+, YouTube, além dos mais antigos (Saraiva Digital e os grandes portais), vão exigir grande demanda por conexões mais velozes e de qualidade. Um estudo feito pela Cisco estima que daqui a três anos o tráfego de vídeos será equivalente a 76% de todos os dados trafegados na internet. "Esses conteúdos vão pressionar mais ainda as redes, porque são grandes consumidores de banda. A pressão maior será nas grandes cidades, exigindo mais investimentos em cabos e fibras ópticas", afirma o consultor de telecom, Newton Scartezzini, da Horizones Consultoria.

O consultor lembra que em relação a países semelhantes, o Brasil está numa posição desconfortável. "Temos baixa penetração de redes em áreas remotas porque somos um país imenso e com preços elevados por causa dos impostos". Em alguns estados a conta de tributos com telecom chega a 54%, informa Scartezzini. Com o PNBL (oferta de 1 Mbps por R$ 35 mensais) isso pode melhorar. Mesmo assim, fora as conexões móveis (3G, wi-fi) e por cabos, que estão na última milha (na casa do usuário), a solução para os gargalos só passa pelas redes de fibras ópticas nos backbones (rede principal, por onde passa o tráfego da internet) e backhauls (que liga o backbone às redes periféricas).

Tamusinas observa que testes feitos pelo Comitê Gestor mostraram regiões bem atendidas – Sul, Sudeste e Centro Oeste, onde existe mais concorrência das operadoras. Nas áreas metropolitanas, as médias de velocidade têm sido acima de 1 Mbps, mas, fora delas, existe uma degradação grande. "Existem cidades servidas apenas por redes móveis ou por rádio, cujas médias são de 256 a 512 Kbps". Patrícia Vello, especialista em telecom, lembra que quando o usuário compra um plano de internet ele quer velocidade, "mas as operadoras só se comprometem a entregar apenas 10% do contratado pelo cliente". E a Anatel não pode multar, porque não existe ainda uma regulamentação do Serviço de Comunicação Multimídia para definir índices mínimos de qualidade e velocidade da conexão. "Às vezes, nem os 10% a gente recebe, porque se vende a mesma capacidade para um grupo de clientes".

E existem congestionamentos nos backbones pela falta de investimentos em sistemas inteligentes de redes já existentes.

A Telefônica informa que está investindo R$ 200 milhões neste ano em sua rede de fibra óptica na Grande São Paulo. A empresa já tem 20 mil privilegiados clientes com a banda larga por fibra, com velocidades mínimas de 30 Mbps para downloads, pelo sistema Fiber To The Home (a fibra vai até à casa ou empresa). Os preços começam em R$ 119,11 (30 Mbps). Essa rede FTTH está pronta para oferecer também IPTV, TV por assinatura em HD, locadora virtual de vídeos. A América Móvil, dona da Claro, Embratel e parte da Net, também vai investir R$ 10 bilhões nos próximos 12 meses em integração tecnológica, redes IPs, móveis, e fibras.

Fonte: Diário do Comércio

Escrito por Barbara Oliveira

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